Vivemos tempos bem desafiantes. Por todos os lados, todas as circunstâncias pedem paciência, foco, assertividade e muito espaço. Na mente e no coração. Acima de tudo, para isso, é importante aprender a respirar e oxigenar devidamente o cérebro.
As sinapses querem-se com espaço entre elas, discernidas e sem confusão - algo que paira no ar entre todos.
O bem-estar depende de respirar em condições. A felicidade e os níveis de serotonina, também.
O sistema nervoso tem uma relação directa com a oxigenação que nos chega ao cérebro, naturalmente, sendo o canal de informação por excelência que é, cada vertebra da própria coluna pressupõe espaço - algo difícil com tantas horas sedentárias, num confinamento em teletrabalho, pleno inverno, e preguicite à mistura. Naturalmente, nós à semelhança da própria natureza, parecemos uma árvore no inverno, a perder alguma força, energia e vivacidade. É natural, é a sazonalidade da vida, é normal que seja pedido um recolhimento dos sentidos (em qualquer circunstância pré-covid), nestes tempos invernosos.
Saber respirar = sinapses felizes e contentes.
Logo, para haver umas boas sinapses e foco e discernimento e um bom raciocínio - fundamental nestes tempos desafiantes que vivemos - é exercitar o cérebro, também músculo.
Por isso mesmo, e mais do que nunca, as práticas e exercícios respiratórios que conhecemos através da orientação de um "pranayama*, numa aula de yoga, ou algumas sequências de fisioterapia pulmonar servem, precisamente, para aprendermos a ampliar a nossa capacidade respiratória, energia vital e, trazer assertividade e tranquilidade à mente.
Uma mente focada e tranquila é capaz de decidir e discernir. É a inteligência em acção.
Sistema nervoso para-simpático e regenerar.
Outra questão que importa reforçar é, passando a redundância, o reforço do próprio sistema imunitário e a estimulação do sistema nervoso para simpático.
Haverá melhor forma de trabalhar estes dois, altamente inter-dependentes- do que cuidamos de nós? As práticas restaurativas, seja Yoga terapêutico, ou a prática que melhor lhe servir, são excelentes momentos para reforçar o estímulo do sistema-nervoso para-simpático, já que esta sociedade veloz e hiper estimulada, nos convida a cada instante a virar para fora, e ansiosos e preocupados, a respirar "stress" por todos os poros e a produzir cortisol, algo que deveria acontecer apenas em situações alerta, de sobrevivência.
Passamos a vida nisto.
Se não há espaço, como é suposto conseguirmos inverter as coisas e olhar para dentro...?
Menos é mais, sabemos e conhecemos estas expressões, até clichês para alguns mas, por norma, só vimos parar a um tapete de yoga (ou algo semelhante) quando a vida nos convida a tal - ou somos todos muuuuito equilibrados (NOT!) e apenas cumprimos a nossa natureza, ou por norma algo na nossa vida - algum episódio ou vários, um burn-out, por ex. - nos conduz aí.
Queres saber como estás? Observa a tua respiração. Respirar e as emoções.
As práticas contemplativas procuram cultivar espaço no corpo, espaço na mente.
Vivemos tempos duros, e recordo aquela metáfora: no caso de acidente de avião, primeiro colocamos a máscara em nós, e depois, nas crianças, não é? Tal e qual, primeiro cuidemos de nós e, assim, podemos cuidar dos demais.
Quando cuidamos de nós, e quando tomamos "sentido de atenção" à própria respiração, ela é um barómetro, funciona perfeitamente nessa relação de nos revelar o nosso estado mais profundo. Levar a atenção a essa magia natural que é respirar e manipular algo que acontece, de forma inteligente e tão ordenada e ritmada, sem precisarmos sequer de pensar nisso (e ainda bem, permite-nos fazer uma série de coisas!), é o primeiro passo para cuidar de nós.
Como está a minha respiração? Tranquila? Fraca e alta (apenas na região superior dos pulmões)? Profunda e lenta?
Ela é a magia que parece ligar corpo e mente. Não há corpo algum que resista à falta de capacidade respiratória. A realidade é que muita coisa pode funcionar, mas se o AR não circula abundantemente e com qualidade, esta orquestra começa a perder-se.
Temos as ferramentas, temos o instrumento - nós próprios e este abençoado corpo tão inteligente, que fala connosco a todo o instante. Aprendamos a usá-lo. Por nós. Por todos.
"The quality of our breath expresses our inner feelings." (TKV Desikachar)
NOTA*
O Pranayama deve ser orientado por professores/terapeutas qualificados. Pode ser usado como uma excelente ferramenta, com repercussões directas no sistema nervoso, logo pode interferir profundamente com estados emotivos e condições de saúde específicos. Não deverá explorar estas possibilidades sozinho, sem orientação ou sem conhecimento para tal. A prática tradicional de yoga visa o Pranayama como forma de aumentar a capacidade vital, desintoxicando o corpo, também, e conduzir a mente para um estado permeável à meditação. No entanto, ao ser utilizado com um propósito e fins específicos, de trabalho respiratório e educação somática, interfere imediatamente com as emoções, a variados níveis. Aconselha-se toda a seriedade e respeito acerca da sua prática.
Filipa Mora
08, Fevereiro, 2021